sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
DEDICATÓRIAS
como respostas aguardando
mergulhadas no fundo
onde meus olhos procuram
suas mãos no instante
em que me deflagro:
avanço ao território
do seu alcance futuro
desperto outro chão
que te sustentará, me consumindo
e te consumirá, me sustentando
mas em nossa casa não quero um jardim. Quero terra úmida, sob sombras e frutas frescas. Terra de mato e raízes, que pisaremos descalços, entre plantas e pássaros e gente mais miúda, sorrindo proliferando-se, e sentindo a respiração o bastante.
Depois do espelho
(Baudrillard)
As formigas e eu
Não bem assim tão voluntário quanto se pretendia até meu próprio berço. Naturalmente seria, é o que se dizia. Digo eu, consequentemente. Como após o salto tem-se o chão a pisar. Fim de ato (rima coincidente) já escolhido, por um esforço dispendido. Admito, há nisso um bom tanto de determinismo arrependido, que nem me faz rir ou chorar. A remediar, pode ser, uma carência de fé incoercível. Mas é puro leite derramado, que não secou.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Para Lou Salomé...
Mas eu vou sempre para ti
Com todos os meus passos
Porque quem sou e quem és
se não nos entendemos?
(Rainer Maria Rilke)
...
Por mais um dia perco as horas entre uns e outros significantes, como coisa que se valha, ou que se falha, a merecer certa atenção disposta. Enquanto isso devo perecer, e me livrar de um todo acabamento, a despeito de qualquer veredicto apropriado, a despeito dessa identidade em plena decadência. A despeito, sobretudo, a despeito.
Eventualmente passo a revogar o absoluto em tantas substâncias circunscreventes e determinantes inscrições de um destino. Que haveria eu de contemplar – subindo a construção como se fosse lógico – não transcorresse por me dissipar.
...
por alcançar outra superfície
como se fora sua própria
a pele atrás do espelho.
Tudo se passa bem apropriado, para que haja uma lacuna de si-em busca, lá mesmo onde incidem-se os reflexos, que se concretizam sob um parecer. E lá se esvai meu amor... ejaculando-se do umbigo de sonho, para o umbigo de carne, daí partindo-se, intruso me cabe.
Fomos longe, devo admitir, se longe são as margens da nossa eqüidistância, essa ausência em recíprocas. Longe é não consumar a travessia. Longe é faltar a chegar.
Sigo aguardando um instante que me acometa de beleza. Espero à espreita, no recuo de quem aguarda o corpo de uma sombra; no suspense da presença de um esboço sem contornos. Vivo, no desejo do silêncio de seu abalo.
Enquanto me derreto sobre espectros, que converto em murmúrios a seco, gestante de abortos afônicos e verborragias natimortas. Estou lacrada, como um veneno que rasteja sobre algum tal próprio umbigo, que é um sonho de sangue! Salto na poça, pois sou mais o ventre a que esse umbigo é despido.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Por outras palavras
sábado, 17 de janeiro de 2009
...
No fundo eu quero
é me manter real
No olhar emerso
entre uns e outros
até o mais próximo fim
vou esboçando meu desterro
Na garganta inflamada
por essas ruas e demais direções
janelas se abrem ao espio
que se constata
alterar-se ainda é loucura.
Cada hora vejo mais calma
entrincheirando-se à beira do abismo
Mas não iremos passar
Não iremos passar mais além
Por hora
não viemos passar
[e o delírio se preenche
em toda casa
na casa inteira
na coisa toda
em cada gesto
cabível definitivo
Deparo-me:
...
Por certas negações
devo me passar deviés
Como quem teme do corpo
seu próprio mesmo contorno
Que ainda encontro
ao gastar-me nessas horas turva
na recusa a fora-de-si render-se
– Peço antes mais, bem mais silêncio!
Que silêncio haveria, eu penso?
se enquanto penso, logo insisto
E me assisto no sentido falho
Por onde vago, por certas negações.
Por certas negações
devo me flagrar desfeita
Como quem leve do gosto
dissipado qualquer contorno
Que encontraria ainda
se me coubesse chegar em casa,