quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

...

Nós fomos longe, eu diria. Porém, digo antes, não há para onde ir – muito além da espera no escuro
por alcançar outra superfície
como se fora sua própria
a pele atrás do espelho.
Tudo se passa bem apropriado, para que haja uma lacuna de si-em busca, lá mesmo onde incidem-se os reflexos, que se concretizam sob um parecer. E lá se esvai meu amor... ejaculando-se do umbigo de sonho, para o umbigo de carne, daí partindo-se, intruso me cabe.
Fomos longe, devo admitir, se longe são as margens da nossa eqüidistância, essa ausência em recíprocas. Longe é não consumar a travessia. Longe é faltar a chegar.
Sigo aguardando um instante que me acometa de beleza. Espero à espreita, no recuo de quem aguarda o corpo de uma sombra; no suspense da presença de um esboço sem contornos. Vivo, no desejo do silêncio de seu abalo.
Enquanto me derreto sobre espectros, que converto em murmúrios a seco, gestante de abortos afônicos e verborragias natimortas. Estou lacrada, como um veneno que rasteja sobre algum tal próprio umbigo, que é um sonho de sangue! Salto na poça, pois sou mais o ventre a que esse umbigo é despido.

Nenhum comentário: