quinta-feira, 10 de junho de 2010

A janela e a nuca

Sem querer
a superfície estaria
no labirinto do ouvido

Na esquina, alguém pôde desejar essa música, esse sopro que comparece numa noite de domingo? Nesses dias que são o mesmo, ela toca ao fundo, onde se irrompem algumas perturbações: a gente esparsa, aparentando-se, como se praticassem humanidades impecáveis.
Penso poder aparecer, de repente e casual, Fred Astaire na chuva. Mas não enquanto houvesse a janela em que me sustento, na atenção de um negro a catar latas, que me serviram inscritas, por um momento. Não enquanto houvesse aquela nuca preta distinta, e sua preconcebida fome, com nojo de si, ou do lixo, ou sem nojo algum, vai saber. Não pretendo estar ao seu alcance. Incide-me a pele, e eu me atenho ao fato – o bastante razoável – de que tal composição seja praticamente irreversível.
Alguém poderia dançar, não obstante. A propósito, alguém poderia dançar? Por outro lado não saberia. Não saberia precisar qual seria eu, ainda que pudesse voltar, com esta mesma forma, aos experimentos do seu germe. Ninguém jamais conhecerá esse indigente e suas vísceras desnecessárias
enquanto a confirmação se faz em plano de fundo – a imagem de Um sobre a imagem dos outros / a imagem do Outro sobre a imagem de uns