domingo, 21 de fevereiro de 2010

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Tenho uma casa que se encerra no mesmo ponto em que me acomete de sua concretude. Tenho essa casa que nem ouso pensar. Pensando, não mais a teria, havendo de se despedaçar na procura por antes e depois, na intenção de se ter e estar contida.


É uma casa onde não se acorda, onde não se esbarra nos tempos. Acordar, traria a partida de meus irmãos, e em minha casa só pode haver inteiro. É uma casa de sonho que não se deixa partir.

A casa é própria, porém. De forma que as coisas não têm seu lugar. Só enquanto as concebo, o que sempre me espanta, pois as coisas se mutilam e se confundem antes de serem concebidas. As coisas assumiram em minha casa o hábito de não se acomodar. As coisas me flagram por acaso.

A casa é própria, porém, então as coisas me dizem “seja feita a sua vontade”. As coisas nem me acreditam, mas dizem assim porque temos essa espécie de humor, eu e meus pedaços, quando estamos bem dispostos a falar sobre isso. “É uma piada de mau gosto ou uma lição de otimismo?” alguém me quis saber entre outras coisas e eu resolvi não responder: “é uma piada de otimismo e uma lição de mau gosto”, disse qualquer coisa eu, o que poderia denunciar a dissimulação de uma co-respondência. Até que me faz rir. Deixando pra lá.

Ainda devo entender que é uma casa muito própria; própria o suficiente para que, por hora, se admita chão de ser toda, uma só e única coisa que pudesse ser concebida, mas nem ouso crer, pois não mais a teria – me saltaria aos olhos o delírio avesso do meu umbigo.

2 comentários:

Anônimo disse...

"As coisas assumiram em minha casa o hábito de não se acomodar. As coisas me flagram por acaso."

Belo, Carol.

Bjos

Carla

Poli disse...

Carol,

Fiquei feliz em ver-te lá no espaço de escrita que tento povoar. Obrigada!!
E também feliz por poder fazer contato contigo novamente. Venho aqui sempre... para respirar ares de poesia. Me lembrei de Borges dizendo (parece que o vejo sentado na varanda aqui de casa papeando) que podemos produzir dois tipos de poesia: não aquelas que chamaremos de simples ou elaboradas, mas as que distinguimos da seguinte maneira - as poesias que podem ser vivas ou mortas.
Aqui posso sentí-las Vivas!!

Te espero por lá no Poeirinhas!
Beijo
Poliana