sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Tenho o dia farto

Talvez, diria eu, algo sobre todo esse exasperamento. Desgastam-me as vozes que vêm da janela, as luzes, o trânsito, esse borbulhar de seres em vias de interrupções mútuas. Como essas paredes, que se acumulam em pó e tempo. Mas ainda há o salto. Uma vez mais e por todo um dia: o ponto fraco que aperta passos. Tenho pressa é de sair daqui. Vocês também, ao que me parecem - têm algo a me dizer?

Não quero mais comer areia. Não quero mais que o correr da veia. Entretanto, se me flagro é na coagulação do instantâneo que se forma e me deflagra, a despeito. A despeito sigo, entre outras paredes ensimesmadas. A ti, vejo depois. No silêncio úmido, durante somos quase um. Devo te engolir a seco?

De uma margem a outra, atropelamentos consecutivos, equívocos necessários. Pulso irrevogável até que não se reste. O acontecimento, porém, é que oferece algum sentido a tal pesar. É tempo ainda o que me faz passar, e tempo ainda quando me contenho o inteiro! Por vezes até te contive, assim, e a todos, como a ninguém, contorno. Eu te contive tanto, às vezes, que era sob a vista alheia derretendo-se em meu corpo mesmo... ah... fazia tempo! Estava lá, tardia. Agora é não mais serei; por enquanto, eu te havia, mas juro que não sei.

Não sei, porque me soluçam as vozes, e luzes, e trânsitos, esse borbulhar de coisas que são, além da janela. Soluçam-me como aquelas mesmas paredes, que se acumulam em pó e a tempo. Tudo isso me faz passar, me aperta os passos, tenho pressa ainda, tenho pressa outro dia, de sair daqui! Eu mais é me interpreto, eu represento. Invento umas coisas, outras tantas confirmo. Por vezes só me engasgo, e nem sei o que digo: então, bem posso ser interrompida. Mas quero saber desse aspecto um lapso de tempo: em que me concentro e sou ainda não, de tão cedo, no imediato enquanto sequer eu me experimento.

É quando nada me ocorre que estou de um vivo mais puro, que é puramente vivo o que se passa por mim. Não que vá me tirar de um nada que é coisa nenhuma! Estou saindo do nada que era uma vez. Só pode ser quase nada, de outra coisa a seguir, que pode nem vir a ser. Eu por Isso me ultrapasso. Encontro-me em vias (de um flagrante desconhecimento).

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