quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

... enquanto no ocaso
de todo e qualquer dia raso,
me farto de lugar comum
e palavras meias.
Como cortes nas veias,
há reticências demais
em minha alma flácida...

Ofegando-se a espera de que nada vem, o sorriso se abate como um prenúncio. Mas nem por um segundo desses posso atravessar de todo calada. Rangendo na ausência de espelhos bem polidos, entre os dentes, é num sopro que me deixo. Embora não irei me deitar com todo esse barulho - são os pássaros da manhã de ontem que agora piam e me atordoam - como um ultimato a que respondo não mais em mim. Não mais em mim aliviar-se, não mais expiações.

Como haveria de me esquecer entre as casas que se desabam num dilúvio de palavras ocas, preenchendo esse estado por tantas coisas que se me impusessem fatais, pois bem está aí o desperdício exato de tal substância: está aqui, em cada mordida, cada tapa, decomposto em débeis demandas que sequer se fazem vontade.

Então, melhor seria esgotar-se nas causalidades de si como um fato, produto linear de reações que se emaranham até o imediato. Poderia decifrar-me em cacos de sonho, vestir-me de um substrato dissecável. Estaria ao menos a ocupar uma dimensão concretamente estável, seguindo uma trajetória nítida. Em tempo. No espaço.

Talvez alimentasse a disposição da Fé, que jamais me coube. Por outro lado sempre impregnou-me um tanto mais a Dúvida, padecendo do nexo de uma matéria por vazios feita - nada entre nós vivo, como um meio opaco. Então, onde estaríamos aqueles que se evidenciam por integridades caóticas, por essência dissipados? Onde estaríamos aqueles que não se definem tão assepticamente nítidos?

(nem direita nem contrária seria tal orientação?!)

Talvez algum morto deus subepidérmico desvendaria Onde Não Me Sei, lá no ato. Flagro-me, porém, antes no estranhamento da distância entre pontos de um ciclo. E sempre a um outro - a Ti, Eternamente - eu me volto.

Um comentário:

Mariana de Almeida disse...

Porra Carol, sem palavras...seus poemas são ótimos...intrigantes,perturbadores,ardentes...um grito!
Adorei amiga, PARABÈNS!!!!

Beijos, Mariana. (Sorocaba)